HISTÓRIA E MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO: ABORDAGENS NECESSÁRIAS E URGENTES

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Makchwell Coimbra Narcizo
Michel Ehrlich
Michel Gherman

Resumo

O Holocausto ou Shoah foi um processo de perseguição, exclusão social e econômica, expropriação, guetização, extermínio por meio da fome, doenças, esgotamento físico por conta do trabalho e, por fim, o assassinato por meio de fuzilamentos e gaseamento. Em suma, um plano de extermínio total, que levou ao assassinato de aproximadamente 2/3 dos judeus europeus durante a Europa ocupada, além de milhares de mortes de outros grupos é um evento marcante no século XX, dadas as proporções da catástrofe.
O Holocausto produziu a mais violenta ruptura para o ideal moderno, racional e civilizado, desestabilizando seu projeto de humanidade. Na medida em que no coração da Europa a barbárie levou, por meio de uma indústria burocratizada, racionalizada e tecnicamente organizada para o extermínio de milhares de pessoas.
Por conta disso, a historiografia do Holocausto é vasta – quase tão antiga quanto o próprio evento – na medida que logo após o choque da descoberta dos campos, em especial de extermínio, era pungente a necessidade de reflexões que buscassem interpretar o fenômeno que altera definitivamente a ordem europeia. Desde então, as reflexões historiográficas com relação a Shoah passaram por desdobramentos distintos e mudanças na medida que novas fontes e novos testemunhos foram descobertos e revelados, ao mesmo tempo que possibilidades de abordagens foram sendo criadas e o próprio distanciamento temporal possibilitava novas abordagens e o trato da memória, na medida que se trata de um evento traumático para o Ocidente.
Nos últimos anos podemos observar fenômenos preocupantes. Um deles, podemos caracterizar como sendo uma certa “apropriação do Holocausto”, que com supostos argumentos historiográficos buscam relativizar o evento. Em outros casos tentam particularizar o fenômeno, tratando-o como relacionado exclusivamente aos judeus, por fim, ainda há incidência do negacionismo histórico que pretende, a partir de grupos específicos, simplesmente negar a existência da Shoah. Fenômeno importante é que quanto mais nos distanciamos temporalmente da libertação dos campos, o número de testemunhas diminui, logo, possuímos hoje a última geração com contato direto com sobreviventes.
Tratar o Holocausto era urgente logo após a revelação dos campos, continuou urgente a cada descoberta, a cada reinterpretação, hoje, com os avanços dos negacionistas e de políticas que remetem aos tempos mais sombrios do século XX, se faz ainda necessário discutir e estudar a Shoah.
Por tudo isso, o presente dossiê busca reunir artigos que tratem o Holocausto nas mais variadas possibilidades de abordagens, anterior à sua ocorrência, durante e depois, ou seja, o que o permitira, seu desenrolar e como fora e é feita a sua gestão de memória, tal como questões teóricas que o envolvem, por se tratar de um evento traumático que desestabilizou as bases de orientação da modernidade trazendo problemas epistemológicos também para a História. Contribuições relativas ao papel do Brasil e da sociedade brasileira nesse período, seja através da relação de refugiados e sobreviventes do Holocausto com o Brasil, ou de grupos políticos – estatais ou não – também são bem-vindas.

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Como Citar
NARCIZO, M. C.; EHRLICH, M.; GHERMAN, M. HISTÓRIA E MEMÓRIA DO HOLOCAUSTO: ABORDAGENS NECESSÁRIAS E URGENTES. Revista Mosaico - Revista de História, Goiânia, Brasil, v. 15, n. 1, p. 3–6, 2022. DOI: 10.18224/mos.v15i1.12437. Disponível em: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/view/12437. Acesso em: 28 mar. 2024.
Seção
Apresentação
Biografia do Autor

Makchwell Coimbra Narcizo, PUC Goiás / UNEMAT/ UESPI

Doutor em História pela Universidade Federal de Uberlândia. Desenvolve pesquisa de Estágio Pós-doutoral no PPGHIST/PUC Goiás. Atualmente é professor substituto na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Unesp - Rio Claro e na UNEMAT "Universidade do Estado de Mato Grosso - Diamantino.

Michel Ehrlich, Museu do Holocausto de Curitiba / PPGHIS UFPR

Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). atualmente é coordenador de História e mediador educativo no Museu do Holocausto de Curitiba e professor de História Judaica no Ensino Fundamental II da Escola Israelita Brasileira Salomão Guelmann.

Michel Gherman, UFRJ

Doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2014). Atualmente é docente adjunto na Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos-NIEJ do Instituto de História da- UFRJ, Coordenador do Laboratório de Religião, Espiritualidade e Política (LAREP) do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é pesquisador associado do Centro de Estudos Judaicos da Universidade de São Paulo, é pesquisador associado do Centro Vital Sasson de Estudos de Anrtissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém. Além disso, Michel Gherman é diretor acadêmico do Instituto

Referências

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