Habitus é uma publicação semestral do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia que visa divulgar a produção científica nas áreas de arqueologia, antropologia, da documentação audio-visual e do meio-ambiente, tendo como eixo central a investigação e a produção culturais das sociedades humanas e intercâmbio com 339 instituições.
A relativa vitória da democracia brasileira sobre intenções e projetos autoritários, apontados na direção da demolição dos direitos constitucionais – fenômenos amplamente estudados por abordagens como Policy dismantling e desconstrução das capacidades estatais – com aplicações verificáveis em múltiplas dimensões, como: meio ambiente, respeito aos direitos das populações indígenas e quilombolas – entre os povos e comunidades tradicionais – respeito à participação social e aos princípios da ciência, foi uma vitória que fez ecoar um alerta sobre a resiliência dos povos e das comunidades tradicionais, quanto as possibilidades de defesa de seus territórios e de seus meios de vida que compõem o patrimônio cultural brasileiro; um valor que, constitucionalmente, compete ao poder público, com a colaboração social, promover e proteger (BRASIL, CF 1988, Art. 216).
Nesta quadra das civilizações humanas a agenda global cobra a elevação dos níveis de reflexão – e de compreensão – sobre a imbricação entre os vetores na intensificação dos fluxos de industrialização, financeirização e de consumo, e as suas consequências sociais e ambientais. A observação de que as terras e os territórios dos povos e comunidades tradicionais se traduzem em refúgios da biodiversidade e na preservação de culturas e de conhecimentos, que podem concorrer para a reversão dos níveis de degradação impostos ao Planeta, foi determinante para que a Habitus – nesta edição – se volte ao reconhecimento das diversas iniciativas em extensão, em pesquisas, em ações públicas e comunitárias, que têm ocorrido no foco da gestão socioambiental das terras e dos territórios ocupados, e disputados, pelos povos e comunidades tradicionais; nas iniciativas de resiliência a partir da organização social e no enfrentamento do racismo ambiental e da injustiça climática.
O Dossiê sobre povos e comunidades tradicionais e a gestão socioambiental de seus territórios propõe-se a acolher reflexões sobre esses temas em suas mais variadas vertentes acadêmicas e empíricas, no intuito de nutrir pesquisadores e organizações sociais para melhores condições de defesa dos dispositivos constitucionais, ao exemplo de Conselhos representativos da Sociedade Civil – como o Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais – que foram efetivamente ameaçados pelo período político que encontra-se parcialmente superado. A (re)existência de ações público-comunitárias como o Projeto Bem-Diverso, capitaneado pela Embrapa; a experiência propiciada pela formulação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas (PNGATI), os Colegiados Territoriais resultantes do Programa de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (PRONAT), entre outras iniciativas, são exemplos de reflexões e de aprendizados que precisam ser partilhadas, como luzes de referências, numa caminhada em defesa do Planeta e de uma Humanidade plural, autônoma e promotora de equilíbrios diversos.
Foto da Capa: Alexandre Gollo. Ornamentação do 4. Encontro Estadual de Agroecologia do RJ. IV EEARJ. Realizado no Quilombo do Campinho, Paraty, 2017.
Estudos arqueológicos realizados sobre e na Amazônia seguiram a lógica tenaz e presente de outras publicações científicas sobre a região, sendo amplamente descritos e divulgados por “pessoas de fora”. Felizmente, nos últimos 20 anos esse cenário começou a mudar. Pessoas com histórias plurais e oriundas de contextos Amazônicos diversos estão sendo formadas e têm realizado arqueologia em seus próprios termos.
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