Cantilenas de Goiás: memórias, gênero e patrimônios das culturas negras na obra de Regina Lacerda

Conteúdo do artigo principal

Paulo Brito do Prado
Paulo Brito do Prado

Resumo

Os interesses do presente artigo se relacionam à problematização da obra de Regina Lacerda sob a lente das categorias de memória, gênero e patrimônios das culturas negras. Percorrendo sua produção bibliográfica, em paralelo com a sua trajetória, encontramos diferentes questões de gênero que precisavam ser debatidas. Estas vão das estratégias e táticas manuseadas por Regina para ocupar cargo na Comissão Goiana de Folclore até o registro substancial, em seus estudos folclóricos, de mulheres negras e miseráveis. Ainda nesta oportunidade provocamos as limitações da categoria de patrimônio ao que se refere à reverberação, pelo seu canal, da memória de mulheres negras e fragmentos das culturas afro-brasileiras. Ainda que ela tenha representado a cultura negra goiana de uma forma superficial, sua obra parece seguir um caminho inverso e reproduz, pelo som do tambor, crenças e ocupações de agentes emancipados da escravidão. É interessante notar que, embora ela reconheça uma ascendência portuguesa na cultura goiana, seu trabalho segue um caminho oposto e indica fortes permanências das culturas indígena e afro-brasileira. Paradoxalmente a pesquisa realizada por Regina Lacerda deixa evidente muitos legados africanos na linguagem, nas crenças, em cultos religiosos e em personagens que preenchem o cotidiano da cidade. Nossos interesses se aproximam de uma etnografia histórica onde se pretende discutir a cultura, a memória, as identidades e legados patrimoniais afro-brasileiros registrados pela folclorista goiana.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Detalhes do artigo

Como Citar
PRADO, P. B. do; PRADO, P. B. do. Cantilenas de Goiás: memórias, gênero e patrimônios das culturas negras na obra de Regina Lacerda. Revista Mosaico - Revista de História, Goiânia, Brasil, v. 9, n. 2, p. 235–250, 2017. DOI: 10.18224/mos.v9i2.4962. Disponível em: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/view/4962. Acesso em: 28 mar. 2024.
Seção
Artigos de Dossiê
Biografia do Autor

Paulo Brito do Prado, Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ)

Doutorando em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Mestre em História Cultural pela Universidade Federal de Goiás (UFG-GO). Graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG-GO). Professor da SEDUC-GO.

Paulo Brito do Prado, Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ)

Doutorando em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Mestre em História Cultural pela Universidade Federal de Goiás (UFG-GO). Especialista em Educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG-GO). Graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG-GO). Professor da SEDUC-GO.

Referências

AZEVEDO, Cecília; ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Identidades plurais. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel. Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.

AZEVEDO, Cecília. Identidades compartilhadas: a identidade nacional em questão. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel. Ensino de história: conceitos, temáticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2009.

BACELAR, Jeferson. A hierarquia das raças: negros e brancos em Salvador. Rio de Janeiro, RJ: Pallas, 2001.

BARTH, Fredrik. O Guru, o Iniciador e Outras Variações Antropológicas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2000.

BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.

CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.

CHAGAS, Mario. Casas e portas da memória e do patrimônio. Revista Em Questão. Porto Alegre, RS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), v. 13, n. 02, 2007.

CHAGAS, Mario. Cultura, patrimônio e memória. Revista Ciências e Letras. Porto Alegre, RS: Faculdade Porto-Alegrense (FAPA), v. 31, 2002.

CHAGAS, Mário. Diabruras do Saci: museu, memória, educação e patrimônio. Revista Brasileira de Museus e Museologia (MUSAS). Rio de Janeiro, RJ: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Departamento de Museus e Centros Culturais (IPHAN), vol. 01, n. 01, 2004.

CHAGAS, Mário. Memória política e política de memória. In: Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos / Regina Abreu; Mário Chagas (Org.). – Rio de Janeiro: DP&A, 2003.

CHUVA, Marcia. Por uma história da noção de patrimônio cultural no Brasil. Revista Patrimônio Histórico e Artísitico Nacional. Brasília, DF: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), n. 34, 2012.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes do fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

CORALINA, Cora. Villa Boa de Goyaz. 2. ed. São Paulo: Global, 2013.

CORALINA, Cora. Estórias da casa velha da ponte. São Paulo: Global, 1986.

COUTO, Goiás do. Memórias e Belezas da Cidade de Goiás. Goiás: Ed. do autor, 1958.

DELGADO, Andréa Ferreira. Goiás: a invenção da cidade “patrimônio da humanidade”. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, RS: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), v. 11, n. 23, 2005.

DIDI-HUBERMAN, George. Quando as imagens tocam o real. Pós: Revista do Programa de

Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes. Belo Horizonte, MG: Universidade Federal de minas Gerais (UFMG), v. 02, n. 04, 2012.

FILHO, Eduardo Henrique de Souza. Canteiro de saudades: evocação e memórias. Goiânia: Poligráfica, 1987.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1992.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo; Ed. 34, 1999.

GUIMARÃES, Manuel Luiz Salgado. O presente do passado: as artes de Clio em tempos de memória. In: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; TEIXEIRA, Rebeca (Org.). Cultura política, historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

LACERDA, Regina. Cantigas e cantares: músicas folclóricas e modinhas goianas. Goiânia: Ed. Da Universidade Federal de Goiás, 1985.

LACERDA, Regina. Cerâmica popular: artesanato vivo em Goiás. Goiânia, 1957.

LACERDA, Regina. Cidade de Goiás, berço da cultura goiana: conferência pronunciada por Regina Lacerda na solenidade de reabertura do Gabinete Literário Goiano. Cidade de Goiás: Publicação do Departamento Estadual de Cultura, 04 de fevereiro de 1968.

LACERDA, Regina. Folclore brasileiro: Goiás. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/Departamento de Assuntos Culturais/Fundação Nacional de Arte/Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1977.

LACERDA, Regina. Histórias e lendas de Goiás e Mato Grosso. São Paulo: Literart, s/d.

LACERDA, Regina. Papa-ceia: noticias do folclore goiano. Goiânia/Goiás: Gráfica Oriente, 1968.

LACERDA, Regina. Pitangas: poesias. Goiânia, 1954.

LACERDA, Regina. Vila Boa: folclore. São Paulo: Gráfica da Revista dos Tribunais; Goiânia: Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, 1957.

LACERDA, Regina. Vila Boa: história e folclore. Goiânia: Oriente, 1977.

LACERDA, Regina. Tambor: dança que Nossa Senhora dançou. Goiás agora: boletim de cultura. Ano 01, n. 03. Goiânia: Edição da Livraria Brasil Central Editora, agosto de 1965.

MEIRELES, Marilucia Melo. Os “bobos” em Goiás: enigmas e silêncios. Goiânia: Editora UFG, 2014.

NETO, Margarida Sobral. O papel da mulher na sociedade portuguesa setecentista: contributo para o seu estudo. In: FURTADO, Júnia Ferreira (Org.). Diálogos oceânicos: Minas Gerais e as novas abordagens para uma história do Império Ultramarino Português. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.

OXALÁ, Adilson de (Awofá Ogbebara). Igbadu, a cabaça da existência: mitos nagôs revelados. Rio de Janeiro, RJ: Pallas, 2010.

PACHECO, Eudes. Marcas: Poemas. Goiânia: Prefeitura Municipal de Goyaz/Museu das Bandeiras, 1977.

PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Tradução de Viviane Ribeiro.

Bauru, SP: EDUSC, 2005.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. Com os olhos no passado: a cidade como palimpsesto. In: PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo; ZANIRATO, Silvia Helena. Narrativas da pósmodernidade na pesquisa histórica. Maringá: Eduem, 2005.

PIERUCCI, Antônio Flávio. A Magia. São Paulo, SP: Publifolha, 2001.

RICOUER, Paul. Tempo e narrativa. 3. O tempo narrado. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

RICOUER, Paul. A memória, a história o esquecimento. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.

SAMUEL, Raphael. Teatros de la memoria. Vol. I: Passado y presente de la cultura contemporânea. Valência: Publicacions de la Universitat de Valéncia, 2008.

SILVA, Mônica Martins da. A escrita do folclore em Goiás: uma história de intelectuais e instituições (1940-1980). Tese (Doutorado em História). Universidade de Brasília, 2008.

SILVA, Mônica Martins da. Diálogos Epistolares e a Construção de um “Campo”: a escrita do folclore em Goiás nas correspondências institucionais (1948/1978). Revista Patrimônio e Memória. Assis, SP: Universidade Estadual Paulista (UNESP), v. 08, n.º 02, 2012.

SCOTT, Joan Wallach. A cidadã paradoxal: as feministas francesas e os direitos do homem.

Florianópolis: Ed. Mulheres, 2002.

SCOTT, Joan Wallach. Experiencia. La Ventana: Revista de Estudíos de Género. Guadalajara, México: Universidad de Guadalajara (UDG), n.13, 2001.

SCOTT, Joan Wallach. Género e historia. Tradução de Consol Vilá I. Boadas. México: FCE,

Universidad Autónoma de la Ciudad de México, 2008.

SCOTT, Joan Wallach. O enigma da igualdade. Revista Estudos Feministas. Florianópolis, SC: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), v. 13, 2005.

SOIHET, Rachel. O feminismo tático de Bertha Lutz. Florianópolis: Ed. Mulheres; Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006.

TAMASO, Isabela. Em nome do patrimônio: representações e apropriações da cultura na Cidade de Goiás. Tese (Doutorado em Antropologia). Universidade de Brasília, 2007.

VILHENA, Luiz Rodolfo da Paixão. Traçando fronteiras. Florestan Fernandes e a marginalização do folclore. In: CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. Reconhecimentos. Antropologia, folclore e cultura popular. Rio de Janeiro: Editora Aeroplano, 2012.