A FLORESTA COMO ESCONDERIJO: ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM NA MATA ATLÂNTICA DO RIO DE JANEIRO

Conteúdo do artigo principal

Rogério Ribeiro de Oliveira
Rúbia Graciele Patzlaff
Rita Scheel-Ybert

Resumo

A arqueologia da paisagem contribui para contextualizar no espaço determinados eventos pretéritos e, de acordo com sua interação com esse espaço, compreender melhor determinados grupos humanos. A provisão de carvão no período colonial e imperial foi uma necessidade constante da sociedade, permitindo usos mais amplos do que a lenha. O presente trabalho traz os resultados de pesquisas feitas em escala local (Maciço da Pedra Branca, RJ) e regional (estados do RJ e parte de SP, ES e MG). Foram descobertas quase 2.000 antigas carvoarias e diversos outros vestígios nas formações florestais estudadas. Os atores deste processo (os carvoeiros) estavam submetidos a intensa invisibilidade social e seu trabalho, apesar de imprescindível à sociedade, apresentava indícios de marginalidade e ilegalidade. A paisagem estudada (Mata Atlântica) guarda marcas deste ciclo de provisão de energia em vários de seus atributos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Detalhes do artigo

Como Citar
OLIVEIRA, R. R. de; PATZLAFF, R. G.; SCHEEL-YBERT, R. A FLORESTA COMO ESCONDERIJO: ARQUEOLOGIA DA PAISAGEM NA MATA ATLÂNTICA DO RIO DE JANEIRO. Revista Mosaico - Revista de História, Goiânia, Brasil, v. 13, n. 2, p. 61–82, 2020. DOI: 10.18224/mos.v13i2.7984. Disponível em: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/view/7984. Acesso em: 28 mar. 2024.
Seção
Artigos de Dossiê

Referências

ABREU, M.A. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700). Rio de Janeiro, Andrea Jakobson Estúdio, 2010.

ALMEIDA, M.C.D.P. (Marquês de Abrantes). Ensaio sobre o fabrico do açúcar. Salvador, Tipografia do Diário, 1834.

ANDRADE, E.N. “Carvão Vegetal”. In: BARBIELINI, C. (ed.): Almanak Agrícola Brasileiro. São Paulo, Chácaras e Quintaes, 1923.

ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve, 1837.

ARETXABALA, M.P. “La vida del carbonero y proceso para la obtención de carbón vegetal”. Euskonews & Media, vol. 67, 2000.

ANSCHUETZ, K. F., WILSHUSEN, R. H. & SCHEICK, CH. L. “An Archaeology of Landscapes. Perspectives and directions”. Journal of Archaeological Research, vol. 9, n.2, 2001.

BERNARDES, N. Aspectos da geografia carioca. Rio de Janeiro: Associação dos Geógrafos Brasileiros (Seção Regional do Rio de Janeiro): CNG/IBGE, 1962. p. 188-210.

BRANTES C.T. “Deu no Correio Braziliense...”: o ofício dos carvoeiros retratado na imprensa do Rio de Janeiro entre 1850 e 1920. Monografia de graduação em Geografia (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2014).

BRIGANTI, L. “Mascates, machadeiros e carvoeiros dalla Toscana a Rio de Janeiro traottocento e novecento”. Navegar, vol. 2, nº 2, 2016.

CASTRO, F. et al. “Use and misuse of the concepts of tradition and property rights in the conservation of natural resources in the Atlantic forest (Brazil)”. Ambiente e Sociedade, vol. 2, 2006.

CINTRA, D.P.; REGO. L.F.G..; OLIVEIRA, R.R. “Classifying successional forest stages using Ikonos in Atlantic Forest of Rio de Janeiro”. Revista Geográfica Acadêmica, vol. 5, 2011.

CLAVAL, P. “A Paisagem dos Geógrafos”. In: CORRÊA, R.L.; ROSENDAHL, Z. (orgs.). Paisagens, Textos e Identidade. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2004, p. 13-74.

CLAVAL, Paul. A Geografia Cultural. 2ª edição. Florianópolis: EdUFSC, 2001.

CONSELHO NACIONAL DE GEOGRAFIA, Tipos e aspectos do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1966.

CORRÊA, A.M. O Sertão Carioca. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, 1933 (reimpressão: Departamento de Imprensa Oficial. Secretaria Municipal Adm., 1936), vol. 167.

COSTA, C.E.C. “Migrações negras no pós-abolição do Sudeste cafeeiro (1888-1940)”. Topoi, vol. 16, n. 30, 2015.

DIEGUES, A.C.S. O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo, Hucitec, 1996.

DURAND, A. et al. 2018. “Le charbonnage en fosse: approche etnoarchéologique d’une pratique das le Rif marocain”. In: PARADIS, G.S.; BURRI, S.; ROUAD, R. (Org.). Charbonnage, charbonniers, charbonnières: confluence de regards autour d’un artisanat méconnu. 1ed. Limoges: Presses Universitaires de Provence, 2018.

ENGEMANN, C. et al. “Consumo de recursos florestais e produção de açúcar no período colonial: o caso do Engenho do Camorim, RJ”. In: OLIVEIRA, R.R. (Org.). As marcas do homem na floresta: História Ambiental de um trecho urbano de Mata Atlântica. Rio de Janeiro, Editora PUC-Rio, 2005.

FERNANDES, J.H.B. et al. Vida de Colono: como viviam e trabalhavam os antigos colonos da cafeicultura trajanense. Rio de Janeiro: Instituto Trabalho e Cidadania, 2008.

GARCIA, P.F. “Indigenous Charcoal Production and Spanish Metal Mining Enterprises: Historical Archaeology of Extractive Activities and Ecological Degradation in Central and Northern Mexico”. In: SOUZA, M.A.T.; COSTA, D.M. Introduction: Historical Archaeology and Environment. (Org.). 1ed. New York: Springer, 2018.

GARCÍA-MONTIEL, D. “El legado de la actividad humana en los bosques neotropicales contemporâneos”. In: GUARIGAUTA, M.R. & G.H. KATTAN (Eds.). Ecologia y conservación de bosques neotropicales. Cartago, Ediciones LUR. p. 97-112, 2002

GOMES, F.S. A Hidra e os pântanos: mocambos, quilombos e sociedades de fugitivos no Brasil (Séculos XVII-XIX). São Paulo, Ed. UNESP, 2005.

HODDER, I. & HUTSON, S. Reading the past: current approaches to interpretation in archaeology. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

KNAPP, A.B. & ASHMORE, W. “Archaeological landscapes: constructed, conceptualized, Ideational”. In: ASHMORE, W. & KNAPP, A.B. Archaeologies of landscape. Contemporary perspectives. Oxford: Blackweel, 1999.

LANDGRAF, F.J.; TSHIPTSCHIN, A.; GOLDENSTEIN, H. “Notas sobre a história da metalurgia no Brasil (1500-1850)”. In: VARGAS, M. História da técnica e da tecnologia no Brasil. São Paulo: Ed. UNESP, 1994

LAZOS, A.E.; OLIVEIRA, R.R.; SOLÓRZANO, A. “Buscando la Historia en los Bosques: el papel de los macrovestigios y de la vegetación en la Mata Atlántica Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science, vol. 6, p. 163-182, 2017.

LUDEMANN, T.; NELLE, O. Die Wälder am Schauinsland und ihre Nutzung durch Bergbau und Köhlerei. Forstwissenschatliche Fakultät der Universität Freiburg und Forstlische Versuchs und Forschungsanstalt Baden-Württemberg, Freiburg, 2002.

MAGALHÃES, J.C. “Lenha e carvão vegetal para o estado da Guanabara”. Boletim Carioca de Geografia, vol. 14 n. 1 e 2, 1961.

MAMIGONIAN, B.G. Africanos livres: a abolição do tráfico de escravos no Brasil. Rio de Janeiro, Companhia das Letras. 2017.

MATARELLI, F. A.; LOPES, L. E. F.; CASTRO, L. F. A. Siderurgia a carvão vegetal. In: MELLO M. G., Biomassa - Energia nos Trópicos em Minas Gerais, Editora UFMG, 2001.

MELNIXENCO, V.C. Nova Friburgo 200 anos: da memória do passado ao projeto de futuro. Rio de Janeiro, Novas Direções, 2018.

OLIVEIRA, M.D.B. Produção de carvão e mudanças na paisagem do Maciço da Pedra Branca, Rio de Janeiro, RJ. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2010.

OLIVEIRA, M.D.G. “Os próximos passos... aperfeiçoar a prospecção arqueológica e abrir a caixa do passado”. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. Hum., Belém, vol. 6, n. 1, 2011.

OLIVEIRA, R.R. “Fruto da terra e do trabalho humano: paleoterritórios e diversidade da Mata Atlântica no Sudeste brasileiro”. Revista de História Regional, vol. 20, p. 277-299, 2015.

OLIVEIRA, R.R.; FRAGA, J.S. “Fluxos de energia, matéria e trabalho na construção da paisagem do Rio de Janeiro do século XIX”. In: FRANCO, J.L.F., SILVA, S.D.; DRUMMOND, J.A.; TAVARES, G.G. (Orgs.). História ambiental: territórios, fronteiras e biodiversidade. Goiania, Editora Garamond Ltda., 2016, p. 35-54.

OLIVEIRA, R.R.; FRAGA, J.S. “Metabolismo social de uma floresta e de uma cidade: paisagem, carvoeiros e invisibilidade social no Rio de Janeiro dos séculos XIX e XX”. GeoPuc (Rio de Janeiro), vol. 4, 2012.

OLIVEIRA, R.R.; SOLÓRZANO, A.; SALES, G.P.S.; OLIVEIRA, M.B.D.; SCHEEL-YBERT, R. “Ecologia histórica de populações da carrapeta (Guarea guidonia (L.) Sleumer) em florestas de encosta do Rio de Janeiro”. Pesquisas. Botânica, vol. 64, 2013.

PATZLAFF, R.G.; SALES, G.P.S.; OLIVEIRA, R.R.; SCHEEL-YBERT, R. “O carvão da velha mangueira: a Antracologia e a História de uma floresta”. Anais do V Simpósio Internacional de História Ambiental e Migrações. Florianópolis, UFSC, 2018.

PATZLAFF, R.G. De árvores a carvões: Influência da atividade carvoeira dos sec. XIX e XX na Mata Atlântica do Maciço da Pedra Branca, Rio de Janeiro e da Serra da Tiririca, Niterói. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas – Botânica). Museu Nacional/UFRJ, MN-UFRJ. 2012.

SEEMANN. J. “A toponímia como construção histórico-cultural: o exemplo dos municípios do estado do Ceará”. Vivência n. 29, 2005.

SCHEEL-YBERT, R.; CAROMANO, C.F.; WAISMAN, L.A. Of Forests and Gardens: Landscape, environment, and cultural choices in Amazonia, Southeastern and Southern Brazil from c. 3000 to 300 cal yrs BP. CADERNOS DO LEPAARQ (UFPEL), vol. 13, p. 425-458, 2016.

SEIJO, M.M. & BRIÓN, A.T. An Interdisciplinary Approach to Wood Charcoal Production in the Northwest of the Iberian Peninsula. In: PARADIS-GRENOUILLET, S. & BURRI, R.R. Charbonnage, charbonniers, charbonnières. Confluence de regards autour d'un artisanat méconnu. Limoges, Presses universitaires de Provence, p. 27-36, 2018.

SOUTH, S. “Reconhecimento de padrões na Arqueologia Histórica”. VESTÍGIOS – Revista Latino-americana de Arqueologia Histórica, vol. 1, p.133-148, 2007.

SOUZA, M.A.T. “Uma outra escravidão: a paisagem social do engenho de São Joaquim, Goiás”. Vestígios – Revista Latino-americana de Arqueologia Histórica. vol. 1, vol. 1, p. 14-41, 2007.

VILLAESCUSA, R.G. “Una disciplina denominada arqueología del paisage”. Apuntes de ciência y tecnologia, vol. 20, 2006.

WORSTER, D. “Para fazer história ambiental”. Estudos Históricos, vol.4, n.8, 1991.

ZEQUINI, A. Arqueologia de uma Fábrica de Ferro: o morro de Araçoiaba, séculos XVI-XVIII. Tese (doutorado em Arqueologia) Programa de Pós-graduação do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. 2007.