<b>Estratégias de Legitimação do Reinado de D. João I (1385 - 1433) nas Narrativas de Fernão Lopes e Gomes Zurara</b>

Conteúdo do artigo principal

Hugo Rincon Azevedo

Resumo

O reinado de D. João I (1385-1433) foi marcado por diversos aspectos utilizados em seu governo como estratégias de legitimação política, e outros que seriam reforçados mais tarde nas narrativas cronísticas com a mesma intenção de dar legitimidade à dinastia recém-entronizada. Dentre essas estratégias, selecionamos quatro que acreditamos terem sido fundamentais nesse processo: a aliança com a Inglaterra por meio do Tratado de Windsor (1386); o casamento do monarca português com a filha do Duque de Lencastre, Dona Filipa; a conquista de Ceuta em 1415 e o início da expansão territorial além-mar; e a evocação do poder régio por meio de cerimônias simbólicas de exaltação a autoridade régia, como as chamadas "entradas régias". Propomos analisar como as memórias desses eventos estão presentes nas narrativas, especialmente na Crônica de D. João I, de Fernão Lopes e na Crônica da Tomada de Ceuta de Gomes Zurara, e como esses elementos foram evocados como estratégias de legitimação da Casa de Avis no século XV.

Legitimation Strategies of the Reign of King John I of Portugal (1385 - 1433) in the Narratives of Fernão Lopes and Gomes Zurara

The reign of King John I of Portugal (1385-1433) was marked by several aspects used in his government as strategies of political legitimation, and others that would later be reinforced in the chronological narratives with the same intention to give legitimacy to the newly enthroned dynasty. Among these strategies, we selected four that we believe were central to this process: the alliance with England through the Treaty of Windsor (1386); the marriage of the Portuguese monarch to the daughter of the Duke of Lencastre, Dona Filipa; the conquest of Ceuta in 1415 and the beginning of territorial expansion overseas; and the evocation of royal power through symbolic ceremonies of exaltation to royal authority, as the so-called "royal entrances". As a theoretical contribution, we start from studies on history and memory, the uses of the past in the construction and legitimation of political power, using as reference the works of Le Goff (2013), Pierre Nora (1993), P. Ricoeur (2007), P. Bourdieu (2010), Marcella L. Guimarães (2012) and Maria Helena Coelho (2008). From these references, we propose to analyze how the memories of the selected historical events are present in the narratives, especially in the Crónica de D. João I, by Fernão Lopes and in the Crónica da Tomada de Ceuta by Gomes Zurara, and how these elements were evoked as strategies to legitimize the House of Avis in the fifteen century.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Detalhes do artigo

Como Citar
AZEVEDO, H. R. <b>Estratégias de Legitimação do Reinado de D. João I (1385 - 1433) nas Narrativas de Fernão Lopes e Gomes Zurara</b>. Revista Mosaico - Revista de História, Goiânia, Brasil, v. 11, n. 2, p. 168–178, 2018. DOI: 10.18224/mos.v11i2.6320. Disponível em: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/view/6320. Acesso em: 28 mar. 2024.
Seção
Artigos de Dossiê
Biografia do Autor

Hugo Rincon Azevedo, UFG

Graduado em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2014), Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (2017) e atualmente é doutorando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás.

Referências

AZEVEDO, H. R. Entre a batalha e o mosteiro: memórias legitimadoras da Dinastia de Avis (séc. XV). 190 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2017.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

COELHO, Maria Helena da Cruz. D. Filipa de Lencastre. A inglesa Rainha, 1360-1415. Vila do Conde: QuidNovi, 2011.

COELHO, Maria Helena da Cruz. D. João I, o que re-colheu Boa Memória. Lisboa: Temas e Debates, 2008.

COELHO, Maria Helena da Cruz. Memória e propaganda legitimadora do fundador da monarquia de Avis. In: NOGUEIRA, Carlos. (Org.). O Portugal Medieval: Monarquia e Sociedade. São Paulo: Alameda, 2010. p. 61-79.

GEARY, Patrick. Memória. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude (Orgs.). Dicionário Analítico do Ocidente Medieval. São Paulo: Ed. Unesp, v. 2, p. 191-207, 2017.

FERNANDES, Fátima Regina. A Monarquia Portuguesa e o Cisma do Ocidente (1378-85). In: FRIGHETTO, Renan; GUIMARÃES, Marcella L. Guimarães (Orgs.). Instituições, Poderes e Juridições na Baixa Idade Média Portuguesa. Curitiba: Juruá, 2007.

GOMES, Rita Costa. A corte dos reis de Portugal no final da Idade Média. Lisboa: Difel, 1995.

GOMES, Saul Antônio. O Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XV: Subsídios para a História da arte portuguesa. Coimbra: Faculdade de Letras, 1990.

GOMES, Saul Antônio. Vésperas Batalhinas: Estudos de História e Arte. Leiria: Edições Magno, 1997.

GUIMARÃES, Marcella Lopes. Aljubarrota (1385) e as vozes que fundam a lembrança. In: GUIMARÃES, Marcella Lopes. Por São Jorge! Por São Tiago! Batalhas e Narrativas Ibéricas Medievais. Marcella Lopes Guimarães (Org.). Curitiba: Ed. UFPR, p. 121-156, 2013.

GUIMARÃES, Marcella Lopes. Capítulos de história: o trabalho com fontes. Curitiba: Aymará Educação, 2012.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

KANTOROWICZ, Ernst H. Os dois corpos do rei: um estudo sobre teologia política medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. São Paulo: EDUSC, 2005.

LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude (Orgs.). Dicionário analítico do Ocidente Medieval. São Paulo: Editora Unesp, 2017.

LE GOFF, Jacques. História e memória. 7º ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.

LE GOFF, Jacques. O imaginário medieval. Lisboa: Estampa. 1994.

LOPES, Fernão. Crónica de D. João I. Lisboa: Amigos do Livro, 1977. Tomo I.

LOPES, Fernão. Crónica de D. João I. Edição preparada por M. Lopes de Almeida e A. de Magalhães Basto. Barcelos: Oficinas Gráficas da Companhia Editora do Minho, 1990. Vol. 2.

MALEVAL, Maria do Amparo Tavares. Fernão Lopes e a retórica medieval. Niterói -RJ: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2010.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Revista do Programa de Estudos Pós Graduados de História da PUC-SP, v. 10, p. 7 – 28, 1993.

ORTA, Daniel Augusto Arpelau. Tomada de Ceuta: uma Batalha em fim de época. In: GUIMARÃES, Marcella Lopes. Por São Jorge! Por São Tiago! Batalhas e Narrativas Ibéricas Medievais. Marcella Lopes Guimarães (Org.). Curitiba: Ed. UFPR, 2013. p. 157 - 195.

PERES, Damião. D. João I. Porto: Vertente. 1983.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas - SP: Ed. Unicamp, 2007.

SILVA, Manuela Santos. A construção coeva da imagem de Filipa de Lencastre como uma “santa rainha”. In: Representações do mito na História e na Literatura. Évora: Universidade de Évora, 2014, p. 197 - 147.

SILVA, Manuela Santos. A Rainha Inglesa de Portugal. Filipa de Lencastre. Lisboa: Círculo de Leitores, 2012.

SILVA, Manuela Santos. Filipa de Lencastre e o ambiente cultural na Corte de seu pai (1360-1387). Clio, Nova Série, v. 16/17, n. duplo, p.245-258, 2007.

ZURARA, Gomes Eannes. Crónica da tomada de Ceuta por El Rei D. João I. Lisboa: Academia das Sciências de Lisboa, 1915.