Materialidades da Morte: Práticas, Símbolos e Espaços Funerários em Contextos Históricos
v. 21 n. 2 (2023)

Ao longo da trajetória da humanidade o fenômeno da morte, em suas dimensões física, espiritual e social, foi apreendido, elaborado e experienciado de formas diversas. Incompreendida, temida, sacralizada ou até mesmo desejada, mas nunca ignorada, a morte sempre protagonizou um importante papel na identidade e na transformação das sociedades antigas e contemporâneas. A partir de uma abordagem sincrônica, evidencia-se seu caráter definitivo e dogmático na medida em que provoca não apenas a destruição do corpo físico, mas encerra os vários estágios da vida; cristaliza o status, muitas vezes representado no tratamento dispensado ao morto; e inicia um processo de dissolução do ser social, não obstante a crença na vida após a morte. Do ponto de vista diacrônico, destaca-se o comportamento dos vivos para com os mortos, bem como a proximidade entre ambos, tão variável nos diferentes momentos e espaços. Diante de tantos aspectos que revestem este fenômeno, desde a Antiguidade ele tem sido objeto de reflexões e estudos por parte de filósofos, psicólogos, antropólogos, historiadores, arquitetos, legisladores e arqueólogos, entre outras áreas do conhecimento. Sob a perspectiva arqueológica, são variados e bastante férteis os caminhos possíveis para se discutir as atitudes perante a morte, e suas consequências tanto para os mortos quanto para os vivos. Alguns temas de interesse passam pelos gestos e rituais que envolvem o sepultamento dos corpos, e os subsequentes processos tafonômicos por eles sofridos; os espaços escolhidos e transformados para receberem os mortos, inseridos no contexto mais amplo da paisagem circundante; e a materialidade dos símbolos e conceitos atrelados à morte, representados através de espaços, estruturas, edificações e objetos.
Embora fartamente explorados em contextos internacionais, esses temas ainda merecem maior destaque entre os estudos em território brasileiro, especialmente no âmbito das práticas mortuárias em período pós-colonial. Este dossiê, portanto, tem como objetivo promover um espaço dedicado a discussões voltadas para os diferentes aspectos da materialidade da morte em contextos sul-americanos dos séculos XVIII, XIX e início do século XX, sendo bem-vindos estudos de arqueotanatologia, arqueologia da morte, arqueologia cemiterial, e arqueologia da paisagem funerária.

Protagonismo Indígena: natureza, cultura e território
v. 21 n. 1 (2023)

Esse dossiê tem como eixo estruturante a temática do protagonismo indígena nas suas múltiplas dimensões, em particular nos aspectos que refletem suas relações com a natureza, com a cultura, com a sociedade e com o território. À época dos anos 1960 e 1970, constatou-se uma retomada do crescimento demográfico dos povos indígenas brasileiros, evidenciado pelos dados censitários de 1991, 2000 e 2010. Esta constatação refletiu-se na mobilização das lideranças indígenas no contexto nacional, desde 1970, com vistas à reivindicação dos direitos ao reconhecimento das suas especificidades. O marco significativo desse movimento foi a garantia dos direitos à organização social e à terra (Art. 231 e 232) e à educação (Art. 210) na Constituição Federal, promulgada em 1988 e nas legislações decorrentes como a Lei 11.645/2008. Esse contexto de visibilização crescente dos povos indígenas, no cenário social e político brasileiro, resultante das ações do movimento indígena, repercutiu, também, na inserção de pessoas indígenas no campo da pesquisa científica, com reverberações importantes na produção de estudos protagonizados por eles e centrados nas suas trajetórias de contato, demandas e busca por reconhecimento étnico, territorial, linguístico, cultural, configurando uma situação considerada como sendo de protagonismo indígena na produção do conhecimento. Pensar essa situação no contexto de mudanças paradigmáticas, no campo das Ciências Sociais, em virtude da postura interdisciplinar assumida pelos/as pesquisadores e pesquisadoras, a partir do diálogo com outras áreas do conhecimento, alude às distintas dimensões do protagonismo indígena, vistas de dentro, ou seja, pelos próprios povos indígenas. Esse dossiê pretende, assim, visibilizar resultados de pesquisas, em andamento ou finalizadas, concernentes ao protagonismo dos povos indígenas na história imediata ou na história anterior pré e pós-contato, em âmbito local, nacional ou global de forma a desvelar, em consonância com a produção do conhecimento nas Ciências Sociais, as atuações, as apropriações, as negociações, as adaptações e as mobilizações dos povos indígenas mediante uma sociedade, historicamente, assimilacionista e integracionista em suas distintas dimensões. Sendo assim, a revista Habitus, vol. 21, n. 1, 2023, por meio do presente dossiê, abre um espaço para dar voz aos povos originários, no sentido de que eles possam publicar e compartilhar seus conhecimentos, seus saberes e seus fazeres com o mundo acadêmico. Serão aceitos artigos elaborados por indígenas e/ou em parceria com não indígenas. Todavia, serão, também, aceitos artigos livres que poderão ser submetidos e publicados nessa edição da revista. Os artigos devem ser enviados até dia 01 de março de 2023, pelo sistema on-line da revista Habitus, quando serão encaminhados a dois pareceristas ad hoc, para avaliação dos mesmos. Editores. Convidados Ms Eunice Pirkodi Caetano Moraes Tapuia Dr. Edson Kayapó (IFBA) Dra Lorranne Gomes da Silva (UEG) Dra Luana Cristina da Silva Campos (UEG) Dra Ordália Cristina Gonçalves Araújo (UEG) Editores Responsáveis Marlene O. de Moura – PUC Goiás/IGPA/EFPH Sibeli A. Viana – PUC Goiás/EFPH

Prática Etnográfica e Conhecimento Arqueológico: etnoarqueologia, etnografia arqueológica e arqueologias indígenas e colaborativas
v. 20 n. 2 (2022)

Capa: Pajé Moreyra Asurini (falecido), relembrando acontecimentos de sua infância durante a expedição etnoarqueológica às aldeias antigas na T.I. Koatinemo (aldeia Tapipiri, igarapé Piranhaquara, 2013)
Crédito: acervo do LINTT/2013.

Cemitérios e Mortes I
v. 10 n. 1 (2012)

Rupturas Aparentes
v. 9 n. 2 (2011)