SOBRE A MUSEALIZAÇÃO DE ACERVOS INY-KARAJÁ: DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA UMA PRÁTICA DECOLONIAL

Conteúdo do artigo principal

Camila Azevedo de Moraes Wichers

Resumo

Neste artigo, apresento aspectos da musealização de acervos Iny-Karajá, indicando as barreiras e potencialidades no cenário contemporâneo. Inspirada pela prática decolonial e pela experiência etnográfica vivenciada no projeto “Rio Araguaia: lugar de memórias e identidades” busco trazer reflexões acerca dos processos de colecionamento do povo Iny-Karajá, partindo de uma breve descrição da trajetória das pesquisas e formação de coleções desse povo. Passo, então, a apresentar algumas premissas e conceitos do processo de musealização, bem como a perspectiva decolonial. Por fim, apresento o projeto Rio Araguaia, destacando duas experiências de musealização que demonstram os desafios e as possibilidades evidenciadas pela interface entre Arqueologia, Antropologia e Museologia e, mais que isso, a partir do diálogo intercultural.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Detalhes do artigo

Como Citar
MORAES WICHERS, C. A. de. SOBRE A MUSEALIZAÇÃO DE ACERVOS INY-KARAJÁ: DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA UMA PRÁTICA DECOLONIAL. Revista Habitus - Revista do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia, Goiânia, Brasil, v. 17, n. 1, p. 53–76, 2019. DOI: 10.18224/hab.v17i1.7258. Disponível em: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/habitus/article/view/7258. Acesso em: 28 mar. 2024.
Seção
Dossiê / Dossier
Biografia do Autor

Camila Azevedo de Moraes Wichers, Universidade Federal de Goiás

Doutora em Arqueologia (MAE/USP) e em Museologia (ULHT/ Lisboa). Docente Adjunta da Faculdade de Ciências Sociais UFG - Bacharelado em Museologia e Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social.

Referências

ABREU, Regina. Museus etnográficos e práticas de colecionamento: antropofagia dos sentidos. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 31, p. 101-125, 2005.

ANDRADE, Rafael Santana Gonçalves de. Colecionando segredos: os aruanãs e as práticas de colecionamento no médio Araguaia. Revista Sociedade e Cultura, v. 21, n. 1, p. 49-71, 2018.

APPADURAI, Arjun; BRECKENRIDGE, Carol A. Museus são bons para pensar: o patrimônio em cena na Índia. Musas – Revista Brasileira de Museus e Museologia, n.3, p. 10-26, 2007. Publicado original em 1992.

ARAÚJO JUNIOR, Mozart Martins de. In?. História e identidade cultural. Índios Karajá de Buridina. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de História, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Goiás, Brasil, 2012.

ATHIAS, Renato; GOMES, Alexandre O. Coleções etnográficas, museus indígenas e processos museológicos. Recife: Editora UFPE, 2016. (Coleção Étnico- Racial).

BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 11, p. 89-117, 2013.

BELAUSTEGUIGOITIA, Marisa. Descarados y deslinguadas: el cuerpo y la lengua índia em los umbrales de la nación. Debate Feminista, v. 12, n. 24, p. 230­253, 2001.

BERGERON, Yves. Préservation. In: DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Dictionnaire encyclopédique de muséologie. Paris: Armand Colin, 2011.

BEZERRA, Márcia. As moedas dos índios: um estudo de caso sobre os significados do patrimônio arqueológico para os moradores da Vila de Joanes, ilha de Marajó, Brasil. Boletim do Museu Paranaense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, Belém, v. 6, n. 1, p. 57-70, 2011.

BEZERRA, Márcia. Teto e afeto: sobre as pessoas, as coisas e a Arqueologia na Amazônia. Belém: GK Noronha, 2017.

BRUNO, Maria Cristina Oliveira. Museologia: algumas ideias para a sua organização disciplinar. Cadernos de Sociomuseologia, Lisboa, Edições Universitárias Lusófonas, n.9, p. 9-33, 1996.

CABRAL, Mariana Petry; SALDANHA, João Darcy de Moura. Um sítio, múltiplas interpretações: o caso do chamado “Stonehenge do Amapá”. Revista de Arqueologia Pública, v. 3, n. 1, p. 7-13, 2008.

CADERNO DE DIRETRIZES MUSEOLÓGICAS 1. Brasília: Ministério da Cultura / Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/ Departamento de Museus e Centros Culturais, Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura/ Superintendência de Museus, 2006.

CASTAÑEDA, Quetzil E. The ‘Ethnographic turn’ in Archaeology. Research positioning and reflexivity in ethnographic archaeologies. In: CASTAÑEDA, Quetzil E.; MATTHEWS, Christopher N. (eds.). Ethnographic Archaeologies: reflections on stakeholders and archaeological practices. Plymouth: Altamira Press, p. 25-61, 2008.

CASTELNAU, Francis. Expedição às regiões centrais da América do Sul. Série Brasiliana 266. São Paulo: Nacional, 1949.

CASTRO-GÓMEZ, Santiago. Ciências sociais, violência epistêmica e o problema da 'invenção do outro' In: CLACSO. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 87-95.

CHAGAS, Mario; GOUVEIA, Inês. Museologia social: reflexões e práticas (a guisa de apresentação). Cadernos CEOM, v. 27, n. 41, p. 9-22, 2014.

CLIFFORD, James. Colecionando arte e cultura. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 23, p. 69-89, 1994. Publicado original em 1993.

COUTO DE MEGALHÃES, José Vieira. Viagem ao Araguaia. São Paulo: Companhia das Letras, 1957.

CURY, Marília Xavier. Museologia, comunicação museológica e narrativa indígena: a experiência do Museu Histórico e Pedagógico Índia Vanuíre. Museologia & Interdisciplinaridade, v. 1, p. 49-76, 2012.

CURY, Marília Xavier; GUIMARÃES, Viviane W.; SILVA, Mauricio; CARNEIRO, Carla G. Kaingang, Guarani Nhandewa e Terena - Resistência já! Fortalecimento e união das culturas indígenas. São Paulo: Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, 2017.

DIAS, Adriana Schmidt. Caminhos cruzados? Refletindo sobre os parâmetros de qualidade da prática arqueológica no Brasil. Arqueologia em Debate, Jornal da Sociedade de Arqueologia Brasileira, São Paulo, n. 2, p. 14-15, 2010.

DORTA, Sonia Ferraro. Coleções etnográficas (1650-1955). In: CARNEIRO DA CUNHA, Manuela (org.) História dos índios do Brasil. São Paulo, FAPESP/Companhia das Letras/SMC, p. 501-528, 1992.

DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria Sobre os sentidos, os tempos e os destinos das coisas. In: DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria; MORAES WICHERS, Camila A.; COLLAÇO, Janine Helfst Leicht (org.). Patrimônios culturais: entre memórias, processos e expressões museais. Goiânia: CEGRAF/ UFG, v. 1, p. 39-51, 2017.

EHRENREICH, Paul. Contribuições para a etnologia do Brasil. Revista do Museu Paulista, N. S., v. 2, p. 7-135, 1948.

EWBANK Cecilia de Oliveira; LIMA FILHO, Manuel Ferreira. Por detrás de uma coleção do Museu Nacional do Rio de Janeiro: vozes, silêncios e desafios. MIDAS - Museus e estudos interdisciplinares, n. 8, p. 1-17, 2017.

FAVRET-SAADA, Jeanne. Ser afetado. Cadernos de Campo, n. 13, p. 155-161. 2005. Publicado original em 1990.

FERREIRA, Lucio M.; FUNARI, Pedro Paulo de A. Arqueologia como prática política. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi. Ciências Humanas, v. 1, n. 4, p. 1-4, 2009.

GNECCO, Cristóbal. Antropología y arqueología: relaciones oblicuas. IN: AYALA, Patricia; VILCHES, Flora (eds.). Teoría Arqueologíca en Chile. Reflexionando en torno a nuestro quehacer disciplinario. QILLQA: Universidad Católica del Norte; Universidad de Chile, 2011. p. 25-40.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Aruanã - 2018. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/go/aruana/panorama. Acesso em: 20 jan. 2019.

IBRAM. Museu dos Povos Indígenas está aberto ao público, 2010. Disponível em: http://www.museus.gov.br/tag/museu-dos-povos-indigenas/. Acesso em: 10 jan. 2019.

KRAUSE, Fritz. Nos sertões do Brasil. Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, v. 68, p. 175-198, 1940.

LEITAO, Rosani Moreira; LIMA, Nei Clara. Bonecas Karajá como patrimônio cultural do Brasil: da pesquisa à salvaguarda. In: VIEIRA, Marisa Damas (org.). Patrimônio, direitos culturais e cidadania. Goiânia: CEGRAF - UFG, v. 01, p. 01-14, 2015.

LIMA FILHO, Manuel F. Entre a paixão e a técnica: reflexões sobre o processo de identificação e demarcação das terras dos Karajá de Aruanã (GO). In: SOUZA E LIMA, Antônio C.; BARRETO FILHO, Enyo T. (org.). Antropologia e Identificação. Rio de Janeiro: Contracapa, v. 1, p. 323-353, 2005.

LIMA FILHO, Manuel F. Karajá de Aruanã. In: MOURA, Marlene C. O. (org.). Índios de Goiás: uma perspectiva histórico cultural. Goiânia: Ed. da UCG/Kelps; Vieira, p. 135-152, 2006.

MORAES WICHERS, Camila A. Dois enquadramentos, um mesmo problema: os desafios da relação entre museus, sociedade e patrimônio arqueológico. Revista de Arqueologia, v. 26, n. 2; v. 27, n. 1, p.16-39, 2013/2014.

MORAES WICHERS, Camila A. Sobre prática arqueológica, gentes e narrativas da memória In: DUARTE CÂNDIDO, Manuelina Maria; MORAES WICHERS, Camila A.; COLLAÇO, Janine Helfst Leicht (org.). Patrimônios culturais: entre memórias, processos e expressões museais. Goiânia: CEGRAF/ UFG, 2017, v. 1, p. 24-38.

NUNES, Eduardo S. De corpos duplos: mestiçagem, mistura e relação entre os Karajá de Buridina (Aruanã – GO). Cadernos de Campo, n. 19, p. 113-123, 2010.

ORTEGA, Daniela. A cerâmica arqueológica do sítio Lago Rico: questões sobre funcionalidade, funcionamento e função. Monografia (Graduação) - Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2016.

PEIRANO, Mariza. Antropologia no Brasil (alteridade contextualizada). In: MICELI, Sérgio (org.). O que ler na ciência social brasileira. 1. Antropologia. São Paulo: Sumaré, 1999. p. 225-266.

PEIRANO, Mariza. Etnografia, ou a teoria vivida. Ponto Urbe, Revista do Núcleo de Antropologia Urbana da USP, Ponto Urbe 2, Ano 2, p. 1-11, 2008.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, cultura y conocimiento en América Latina. Dispositio, Crítica Cultural em Latinoamérica: Paradigmas globales y enunicaciones locales, v. 24, n. 51, p. 137-148, 1999.

RAMBELLI, Gilson. Arqueologia subaquática do Baixo Vale do Ribeira. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo, 2003.

RIBEIRO, Berta G. Etnomuseologia: da coleção à exposição. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, São Paulo, n. 4, p. 189-201, 1994.

SANTOS, Maria Célia Teixeira Moura. Encontros Museológicos - reflexões sobre a museologia, a educação e o museu. Rio de Janeiro: MinC/ IPHAN/ DEMU, 2008.

SEGATO, Rita L. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. E-Cadernos Ces 18, Epistemologias feministas: ao encontro da crítica radical, p. 105-131, 2012.

SEGATO, Rita L. La crítica de la colonialidad em ocho ensayos. Y una antropología por demanda. Buenos Aires: Prometeo Libros, 2013.

SHANKS, Michael; TILLEY, Christopher. Re-constructing archaeology. London, New York: Routledge, 1992. Publicado Original em 1987.

SILVA, Maria do Socorro Pimentel da et al. Projeto político-pedagógico educação intercultural - Núcleo Takinahak? de Formação Superior Indígena, Goiânia, 2006.

SILVA, Telma Camargo da. (org.). Ritxoko. Goiânia: Canône Editorial, 2015.

VAN VELTHEM, Lucia Hussak; KUKAWKA Katia, JOANNY, Lydie. Museus, coleções etnográficas e a busca do diálogo intercultural. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 12, n. 3, p. 735-748, 2017.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O nativo relativo. Mana, v. 8, n. 1, p. 113-148, 2002.

WHITE, Hayden. El texto histórico como artefacto literário. In: WHITE, Hayden. El texto histórico como artefacto literário y otros escritos. Barcelona: Paidos, 2011.

WÜST, Irmhild. A cerâmica Karajá de Aruanã. Anuário de Divulgação Científica, v. 2, n. 2, p. 95-165, 1975.

WÜST, Irmhild. Entrevista com Irmhild Wüst. Série Documentos do Museu Antropológico da UFG, Goiânia, n. 5, p. 59-66, 2011.

WÜST, Irmhild. Observação sobre a tecnologia cerâmica dos Karajá de Aruanã. Arquivo do Museu Histórico Nacional de Minas Gerais, Volume VI-VII, p. 311-322, 1981-1982.